Por Fellipe Branco*
Existe uma série de livros do Asimov chamada A Fundação (tem uma adaptação em forma de série, que é muito massa e está disponível na Apple TV+), em que basicamente se fala sobre uma quantidade absurda de dados sobre a história da humanidade. Tanta informação permitiria prever, com razoável certeza, que um império galáctico em decadência estava prestes a colapsar, mergulhando o universo numa crise interminável. A solução? Se preparar com antecedência. Criar um plano B. Ou melhor, criar uma tal de Fundação que preservaria conhecimento, cultura e avanços humanos para reconstruir a civilização no futuro.
Se você é fã de Star Wars, saiba que a saga bebeu nessa fonte. O império galáctico? Tá lá. A luta entre razão e fé, ciência e política? Também. A arma que destrói planetas? Claro. E se você curte Duna, Mass Effect ou The Expanse, saiba que todos seguem esse DNA: a tensão entre controle, dados e caos universal.
Agora você pode estar se perguntando: “mas o que isso tem a ver com Legal Ops?”. Respira fundo. Vai fazer sentido.
Em A Fundação, os dados são tratados, analisados, organizados e transformados em modelos que ajudam a prever o futuro. O autor chama isso de “psico-história”, mas você pode pensar como um mix entre estatística e futurologia com esteroides. A lógica é: ações isoladas não mudam o curso da história, mas ações coordenadas e planejadas com base em dados podem fazer isso.
Se você trabalha em um departamento jurídico ou projeto de Legal Design, já sentiu esse drama. Você sabe que o caos é real. E que só tem uma saída: dados, processos e estratégia. Parece ficção científica, mas é só terça-feira no jurídico.
Falando em dados, talvez você tenha ouvido falar em “data lake” ou “data pool”. Não, não são lugares para nadar. Um data lake é um repositório gigantesco onde você joga todo tipo de dado cru, ainda desorganizado. Já um data pool é mais como aquela caixa de ferramentas bem montada, onde você encontra tudo no lugar certo. Um é caos, o outro é organização. E sim, tem gente tentando fazer planejamento estratégico com a lama do lago.
E tem também o famigerado Big Data, que nada mais é do que um volume gigantesco de informação sendo processado com a ajuda de tecnologia, estatística e algumas pitadas de desespero. Com ele, você pode prever comportamentos, mapear tendências e, com sorte, tomar decisões um pouco mais inteligentes. Isso se você não estiver confiando demais no seu… NPS.
Aproveitando: o NPS é aquele número bonitinho que mede se seus clientes te amam ou te toleram. Mas cá entre nós: confiar só no NPS para tomar decisões estratégicas é como usar horóscopo como plano de carreira. Serve como sinal, mas não substitui análise séria.
A reflexão aqui é simples: será que ações isoladas bastam? Ou precisamos estruturar nossas operações jurídicas com base em dados de verdade, análises consistentes e estratégias bem desenhadas?
Quer começar? Começa pequeno. Tem um livro ótimo chamado Small Data, do Martin Lindstrom, que mostra como grandes insights surgem de pequenas observações. O oposto do hype de Big Data, mas com mais pé no chão. Uma leitura obrigatória pra quem acha que só números gigantes trazem respostas.
E se você quer se aprofundar mais na lógica de que só dados transformados em estratégia movem impérios (sejam eles galácticos ou jurídicos), vale dar uma olhada em Black Box Thinking, do Matthew Syed, e The Signals Are Talking, da Amy Webb. Ambos falam sobre como prever o futuro aprendendo com o presente, e como falhar faz parte do processo.
No fim das contas, o que quero dizer é: não dá pra construir um futuro jurídico mais inteligente com base em achismo. A gente precisa de métodos, mecanismos de pesquisa, análise, contexto e boas perguntas. Só assim dá pra construir produtos, serviços e experiências que façam sentido; hoje e amanhã.
E, enquanto isso, aproveita pra assistir à série. Vai que ela te inspira a “fundar” algo por aí.
Sobre a Coordenação
Fellipe Branco é Pai da Dora, padrasto do Tin e do Nico, rubro-negro, músico nas horas vagas e às vezes me arriscando em uns bares do Rio. No resto do tempo, sou designer de informação e legal designer, ajudando a tornar o mundo jurídico mais claro, eficiente e humano.