Novas perspectivas da advocacia: estratégica jurídica como vetor de inovação e competitividade
Por Christiana Castrioto*
O mundo está mudando cada vez mais rápido. A nova ordem econômica internacional é marcada por modelos descentralizados, ativos digitais e plataformas de intermediação. Fenômenos como a tokenização de ativos, o uso de blockchain e inteligência artificial exigem respostas jurídicas inovadoras.
A lógica tradicional da advocacia reativa ou contenciosa vem sendo gradativamente substituída por uma atuação cada vez mais proativa e estratégica, que, muito além de identificar riscos, é capaz de propor soluções inovadoras e eficazes que possam gerar valor concreto aos negócios.
Advogado como parceiro de negócios
Essa mudança de paradigma exige uma compreensão ampliada da prática jurídica. O advogado passa a ser um parceiro estratégico na própria estruturação de modelos de negócio, atuando desde a concepção dos projetos até a sua implementação, assegurando segurança jurídica, conformidade regulatória e alinhamento institucional.
Neste cenário cada vez mais complexo, o advogado deve buscar respostas jurídicas inovadoras e seguras, com a agilidade exigida pelo ambiente de negócios dinâmico dos tempos modernos. Além de excelência técnica, é fundamental que se tenha postura ativa, capacidade de interlocução com as diversas áreas das empresas e conhecimento profundo dos mercados em que atuam.
Com uma visão transversal do negócio, é possível transformar desafios jurídicos complexos em soluções estrategicamente vantajosas, alinhadas à realidade operacional das organizações. O grande diferencial dessa atuação está na capacidade de enxergar além do direito, construindo soluções integradas aos negócios, à governança e à sustentabilidade institucional.
Essa mudança de perspectiva é especialmente relevante para departamentos jurídicos internos, que deixam de ser vistos como centros de custo para se tornarem centros de geração de valor, conquistando espaço nas principais mesas de decisão.
Os desafios dos jurídicos internos na prática
Apesar de sua importância teórica, essa atuação estratégica enfrenta desafios concretos, especialmente nas grandes organizações, onde os departamentos jurídicos internos frequentemente se veem sobrecarregados pelo grande volume de demandas e pela gestão diária de processos e passivos, o que dificulta uma atuação preventiva capaz de atacar as causas-raiz dos problemas, muitas vezes situadas fora da esfera jurídica.
Nesse contexto, a adoção de ferramentas de inteligência artificial e de análise de dados jurídicos tem permitido a automação de tarefas repetitivas e a geração de análises estratégicas baseadas em dados concretos. Esse avanço tecnológico contribui para uma atuação mais eficiente, preventiva e orientada por evidências, liberando os departamentos jurídicos para direcionar seus esforços para questões mais complexas e estratégicas.
Com o suporte dessas soluções, é possível antecipar riscos, identificar padrões recorrentes e propor soluções técnicas mais embasadas e assertivas, alinhadas às dinâmicas do negócio.
Para maximizar os benefícios dessas ferramentas, a atuação do jurídico deve ir além da análise preliminar, estendendo-se ao acompanhamento contínuo das operações. Isso implica orientar gestores, capacitar equipes e implementar políticas internas eficazes que consolidem uma cultura organizacional pautada na integridade e conformidade, garantindo que as soluções jurídicas sejam plenamente aplicadas na prática.
Essa mudança de perspectiva só é sustentável com a construção de relações de confiança e parceria com as mais diversas áreas da empresa, de modo que o jurídico seja incluído, organicamente, nos projetos, desde o seu planejamento inicial, ajudando a construir soluções seguras e eficientes e atuando como elo fundamental entre inovação e conformidade.
Para isso, o advogado deve desenvolver algumas habilidades especiais, como saber dialogar com as áreas técnicas, exercitar a escuta ativa e adaptar sua comunicação aos diferentes interlocutores, procurando atuar sempre como um facilitador de negócios e propor soluções multidisciplinares que atendam aos interesses da empresa.
Conhecimento de mercado como diferencial dos escritórios externos
Esse desafio é ainda maior para os advogados externos, que não acompanham de perto o cotidiano das empresas e, por isso, não conhecem a fundo seus fluxos operacionais e processos internos. Para que um escritório externo possa elaborar, por exemplo, um contrato verdadeiramente estratégico para os negócios da empresa, não basta excelência técnica e especialização: é imprescindível que tenha conhecimento profundo do mercado do cliente e seus desafios regulatórios específicos.
O advogado externo deve, portanto, aliar expertise técnica ao conhecimento sistêmico do setor, oferecendo uma assessoria jurídica estratégica que vá além dos serviços jurídicos tradicionais, antecipando riscos e construindo soluções seguras, inovadoras e eficazes.
Nesse cenário, quanto mais próxima e duradoura for a relação entre o escritório e o cliente, mais estratégica e eficiente tende a ser a assessoria jurídica prestada, favorecendo parcerias de longo prazo que geram maior valor para os negócios.
Além disso, o advogado que compreende a cultura organizacional e os objetivos estratégicos do cliente consegue oferecer respostas jurídicas alinhadas à realidade prática da empresa, tornando-se um verdadeiro aliado institucional. O diálogo frequente e a comunicação clara são fundamentais para o desenvolvimento dessa confiança mútua.
Geração de valor e impacto concreto
Em um ambiente institucional cada vez mais complexo, a advocacia assume papel fundamental na prevenção de riscos, no fortalecimento da governança e na construção de soluções jurídicas que agregam valor real às organizações.
Sob essa nova perspectiva, o jurídico posiciona-se como aliado estratégico dos negócios, com a missão não apenas de apontar riscos, mas também de identificar oportunidades e construir soluções que contribuam para a inovação, crescimento e fortalecimento da imagem institucional. Essa abordagem propositiva transforma o conhecimento jurídico em uma ferramenta estratégica, alçando o advogado a um agente de construção de valor.
Assim, quando exercida com visão estratégica, técnica apurada e sensibilidade institucional, a advocacia fortalece a confiança, reduz incertezas e promove a longevidade das organizações. Mais do que resolver problemas, ela constrói soluções.
Sobre a Autora
Christiana Castrioto é sócia do Trengrouse & Gonçalves Advogados. Advogada com mais de 20 anos de experiência em grandes escritórios e empresas, nas áreas de entretenimento e esporte. Formada em Direito pela PUC-Rio e pós-graduada em Direito Patrimonial Privado. Membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/RJ.





